2.11.11

O Culpado de Tudo



Em Oswald de Andrade: o culpado de tudo, o público tem a oportunidade de conhecer profundamente o polêmico escritor, um dos criadores da Semana de Arte Moderna de 1922.

Pela primeira vez o Museu da Língua Portuguesa realiza uma exposição sobre a vida e obra de um escritor paulista e paulistano. Para o curador da mostra, José Miguel Wisnik, “o projeto teve por objetivo organizar uma exposição sobre Oswald de Andrade, reforçando seu papel decisivo para a formação da cultura contemporânea e destacando a consistência de sua obra, de maneira a que a sua atualidade esteja patente sem que se perca de vista a situação histórica em que ela foi gerada.”

 A mostra contempla três dimensões de leitura: poética; histórico-biográfica; e filosófica. Estas dimensões não se caracterizam como “partes” em que se divide a exposição, mas como níveis de manifestação da “vida-e-obra” que se articulam de maneira inseparável no processo expositivo.

Dimensão Poética: Não se fala estritamente de poesia, mas da poética da forma, do envolvimento com a linguagem em todos os seus aspectos. A exposição tem como ponto de partida os princípios formais que ele mesmo traçou no Manifesto da Poesia Pau-Brasil: agilidade, síntese, equilíbrio geômetra, acabamento técnico, invenção e surpresa. A condensação do pensamento em frases e boutades, a verve anedótica, a paródia, o fragmento, o design, o reclame, a espacialização das palavras na página, são, todos, procedimentos de economia verbal, altamente visualizáveis, de cuja agilidade dessacralizante a exposição não fica a dever.



Verbo crackar 

Eu empobreço de repente
Tu enriqueces por minha causa
Ele azula para o sertão
Nós entramos em concordata
Vós protestais por preferência
Eles escafedem a massa.
Sê pirata
Sede trouxas
Abrindo o pala
Pessoal sarado
Oxalá eu tivesse sabido 
Que esse verbo era irregular



Dimensão Histórico-biográfica: Poucos escritores têm, como Oswald, uma biografia que é também um diagrama de seu tempo. O jovem burguês viajante boêmio acompanhando “in loco” os movimentos da vanguarda europeia nos anos 10; o artífice do movimento modernista e agitador antropofágico, poeta e autor de narrativas experimentais na década de 20; o dilapidador de fortuna arruinado pela crise de 29, militante comunista editando O Homem do Povo, “casaca de ferro da Revolução Proletária”, escrevendo romance cíclico e teatro cáustico na década de 30; o intelectual em ruptura com a ortodoxia estalinista, retomando a vertente utópica do seu pensamento em textos de fôlego discursivo e filosofante, nos anos 40, e condenado ao ostracismo na fase final, até a morte em 1954, são figuras gritantes dos grandes temas ideológicos da primeira metade do século XX, indo da “belle époque” ao segundo pós-guerra. Duplas criativas, formadas a cada momento entre Oswald e Mário de Andrade, Oswald e Tarsila do Amaral, Oswald e Blaise Cendrars, Oswald e Pagu, Oswald e Flavio de Carvalho, são significativas dos trânsitos culturais envolvidos, e são objeto de tratamento expositivo.




Dimensão Filosófica: Oswald de Andrade é um pensador original da cultura contemporânea e da inserção original do Brasil nesse quadro. A exposição se contrapõe a toda e qualquer visão epidérmica desse pensamento, ressaltando o que há de rigoroso e radical nos seus critérios, mesmo quando sob a forma do epigrama, que Oswald leva a consequências inéditas. A influência marcante do autor a partir dos anos 60, graças às intervenções fortes da poesia concreta, do Teatro Oficina e do movimento tropicalista, pode ser entendida também pelo que havia de antecipatório em suas ideias: questões como as do sentimento órfico contra o produtivismo prometeico encontram-se depois no Eros e civilização de Herbert Marcuse; a ideia da revolução sexual e da utopia do matriarcado se vê em Wilheim Reich; o primitivismo tecnológico pode ser reconhecido na “aldeia global” de MacLuhan.



Oswald de Andrade

Senhor
Que eu não fique nunca
Como esse velho inglês
Aí do lado
Que dorme numa cadeira
À espera de visitas que não vêm

(Primeiro caderno do aluno de poesia)


Todo paulistano, todo brasileiro, todo o mundo deve ir maravilhar-se com a exposição.


A curadoria é de José Miguel Wisnik, com curadoria-adjunta de Cacá Machado e Vadim Nikitin. Carlos Augusto Calil e Jorge Schwartz são consultores da exposição. O projeto expográfico é do arquiteto Pedro Mendes da Rocha.

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