2.9.12

Edgar Allan Poe

Inspirada pelo filme O Corvo, de James McTeigue, achei que não seria de todo mal fazer uma homenagem a este ídolo da literatura mundial, Edgar Allan Poe. Suas histórias, terríveis e sensíveis, fazem o leitor experimentar o mais profundo da alma humana. Em contos como A Queda da Casa de Usher, A Máscara da Morte Escarlate ou O Poço e o Pêndulo, não é improvável que você sinta seus pelos arrepiarem.
Usarei-me da biografia do site poestories.com.

Nascido em Boston, em 19 de janeiro de 1809, seus pais foram David e Elizabeth Poe. Edgar tinha dois irmãos, Henry e Rosalie. Elizabeth se separou do marido e ficou com as três crianças, mas faleceu em 1811. Henry foi viver com seus avós, Edgar foi adotado pelo Sr. e Sra. John Allan e Rosalie foi adotada por outra família. John Allan eram um homem de negócios bem sucedido, então cresceu cercado de conforto e frequentou boas escolas.
Em 1826 Edgar vai para a Universidade da Virgínia. Ele tinha então 17 anos. Nessa época, ele começou a beber muito e rapidamente se tornou alcoólatra. Ele teve que abandonar a escola menos de um ano depois.
Então, em 1827, Edgar se alista. Ele entra para o exército com seus 18 anos, e a sargento. Em 1829, a Sra. Allan falece e John Allan, tentando ser amigável com Edgar, inscreve-o para uma vaga em West Point. Enquanto esperava sua admissão, Edgar vai viver com sua avó e sua tia, junto com seu irmão Henry e sua prima, Virginia. Em 1830 ele é aceito em West Point como cadete, mas como seu pai se recusasse a mandar qualquer ajuda financeira, Edgar acaba abandonando a escola novamente.
Em 1831, Edgar vai para Nova York, onde algumas de suas poesias haviam sido publicadas. Ele tenta enviar seus textos para revistas e jornais, mas é recusado. Pede ajuda a John, mas nada recebe. John Allan morreu em 1834 e não mencionou Edgar em seu testamento. Em 1835, Edgar consegue um emprego de editor em um jornal, graças a um concurso que ganhou com sua história "Manuscrito Encontrado em uma Garrafa". No ano seguinte, Poe se casa com sua prima Virginia. Ele tinha 27 anos, e ela, 13.
Poe se deu muito bem como editor do jornal, aumentando sua circulação de 500 para 3500 cópias, mas em 1836 pede demissão por causa do "baixo salário".
Em 1838 ele se muda para Filadélfia, onde escreve Ligéia e O Palácio Assombrado. O primeiro volume de histórias de Edgar Allan Poe, Contos do Grotesco e Arabesco, foi lançado em 1839. Edgar recebeu 20 cópias do livro, mas nenhum dinheiro.
Em 1840, Poe vai trabalhar no Revista Graham, e durante os dois anos que trabalhou lá, publicou sua primeira história de detetive, Os Assassinatos na Rua Morgue. Enquanto Poe foi editor da revista, a circulação aumentou de 500 para 35000 cópias. Em 1842, Poe pede demissão e decide abrir sua própria revista, a The Stylus, mas falha.
Em 1843 ele publica alguns livretos com suas histórias, mas as vendas não são boas e ele mal consegue ganhar dinheiro para sustentar sua família. O Escaravelho de Ouro tinha uma circulação de 300 000 cópias, mas ainda não era o suficiente.



Em 1845, Poe se torna editor do The Broadway Journal. Um ano depois e jornal faliu e Poe fica sem emprego novamente. Ele e sua esposa se mudam para uma pequena casa, mas Virginia está com graves problemas de saúde. Ela morre em 1847, dez dias depois do aniversário de Edgar. Após perder a esposa, Poe entra em colapso, mas consegue se restabelecer um ano depois.
Em junho de 1849, Poe deixa Nova York e vai a Filadélfia visitar um amigo, John Sartain. Em julho ele se muda para Richmond e começa um romance com Sarah Royster Shelton, com quem pretendia se casar em outubro. Em 27 de setembro, Poe vai a Filadélfia e fica com um amigo, James P. Moss. No dia 30 de setembro, Poe supostamente iria para Nova York, mas se engana e pega o trem para Baltimore. No dia 3 de outubro, Poe é encontrado em Gunner's Hall, uma casa pública, e é levado para o hospital. Teve lapsos de consciência, mas acaba falecendo no dia 7 de outubro de 1849, sem nunca explicar o que aconteceu.



Eis a história de nosso homem.
Suas histórias e poesias podem ser encontradas nos links abaixo (em inglês):
http://poestories.com/stories.php
http://poestories.com/poetry.php

E fica aqui um presente de Fernando Pessoa a todos nós. Sua tradução de O Corvo, de Edgar Allan Poe.


      O CORVO
      (de Edgar Allan Poe)

    Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
    Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
    E já quase adormecia, ouvi o que parecia
    O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
    "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.

    É só isto, e nada mais."

    Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
    E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
    Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
    P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
    Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,

    Mas sem nome aqui jamais!

    Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
    Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
    Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
    "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
    Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.

    É só isto, e nada mais".

    E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
    "Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
    Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
    Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
    Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.

    Noite, noite e nada mais.

    A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
    Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
    Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
    E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
    Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.

    Isso só e nada mais.

    Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
    Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
    "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
    Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
    Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.

    "É o vento, e nada mais."

    Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
    Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
    Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
    Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
    Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,

    Foi, pousou, e nada mais.

    E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
    Com o solene decoro de seus ares rituais.
    "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
    Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
    Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."

    Disse o corvo, "Nunca mais".

    Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
    Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
    Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
    Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
    Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,

    Com o nome "Nunca mais".

    Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
    Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
    Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
    Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
    Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".

    Disse o corvo, "Nunca mais".

    A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
    "Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
    Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
    Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
    E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais.

    Era este "Nunca mais".

    Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
    Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
    E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
    Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
    Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,

    Com aquele "Nunca mais".

    Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
    À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
    Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
    No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
    Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,

    Reclinar-se-á nunca mais!

    Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
    Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
    "Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
    O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
    O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"

    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
    Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
    A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
    A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
    Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!

    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
    Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
    Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
    Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
    Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"

    Disse o corvo, "Nunca mais".

    "Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
    Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
    Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
    Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
    Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"

    Disse o corvo, "Nunca mais".

    E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
    No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
    Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
    E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,

    Libertar-se-á... nunca mais!
    Fernando Pessoa

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