Não muito romântico, mas meu.
A Moça
Drummond me perdoe, mas ela estava sentada no meio da calçada. “Uma pedra no meio do caminho”, como disse o poeta. Mas nada havia ali de poesia. Imaginei-a como um imenso empecilho a minha passagem, aquela criança maltrapilha que brincava com um avião de papel. Como se atrevia a atrapalhar o trânsito de pessoas que precisam trabalhar e ganhar dinheiro para alimentar suas crianças? Não era possível que aquela menina, tão suja, não conseguisse atravessar a rua e ficar com seus brinquedos do outro lado da calçada, onde não me atrapalharia. Eu, que já estava quinze minutos atrasado para a reunião desta manhã.
De repente parei. Olhei-a e ela sorria um sorriso de criança, familiar. O mesmo de meu filho, que deixei na escola esta manhã – motivo de meu atraso. Era uma criança sentada no meio do meu caminho. Talvez, sem toda aquela sujeira, fosse bonita, e não duvido que o fosse. Pensei se não haveria alguém que a levasse para a escola, que a ensinasse a ler, que transformasse essa lagarta feia em borboleta para sobreviver nesse mundo de hoje. Ela estava sentada sozinha. Era preciso haver alguém para pegá-la no colo, ali mesmo, e salvá-la do meu desespero! Eu não pude ficar olhando.
Atravessei a rua. Cruzei para a calçada ao lado, igualmente lotada, e me perguntei se a minha impaciência anterior não seria desnecessária, se toda minha pressa não seria desnecessária diante daquela menina, que estava atrasada para a infância, que precisava começar logo a viver. Quem abandonaria aquela criança ali, no meio do caminho?
Definitivamente, minha pressa é desnecessária. É preciso parar, segurar o país pelos braços e sacudi-lo até que ele se torne pai e pare de abandonar seus homens, mulheres e suas crianças pelas ruas sujas de suas cidades. Como Drummond, “jamais me esquecerei deste acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas”. A calçada que parecia lotada por causa daquela criança no meio do caminho já parecia distante. Ainda pude olhar para trás e vê-la, como a deixei, brincando com seu aviãozinho de papel. Era uma criança, meu deus! Tive remorsos. Nós poderíamos ter ajudado.
De repente parei. Olhei-a e ela sorria um sorriso de criança, familiar. O mesmo de meu filho, que deixei na escola esta manhã – motivo de meu atraso. Era uma criança sentada no meio do meu caminho. Talvez, sem toda aquela sujeira, fosse bonita, e não duvido que o fosse. Pensei se não haveria alguém que a levasse para a escola, que a ensinasse a ler, que transformasse essa lagarta feia em borboleta para sobreviver nesse mundo de hoje. Ela estava sentada sozinha. Era preciso haver alguém para pegá-la no colo, ali mesmo, e salvá-la do meu desespero! Eu não pude ficar olhando.
Atravessei a rua. Cruzei para a calçada ao lado, igualmente lotada, e me perguntei se a minha impaciência anterior não seria desnecessária, se toda minha pressa não seria desnecessária diante daquela menina, que estava atrasada para a infância, que precisava começar logo a viver. Quem abandonaria aquela criança ali, no meio do caminho?
Definitivamente, minha pressa é desnecessária. É preciso parar, segurar o país pelos braços e sacudi-lo até que ele se torne pai e pare de abandonar seus homens, mulheres e suas crianças pelas ruas sujas de suas cidades. Como Drummond, “jamais me esquecerei deste acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas”. A calçada que parecia lotada por causa daquela criança no meio do caminho já parecia distante. Ainda pude olhar para trás e vê-la, como a deixei, brincando com seu aviãozinho de papel. Era uma criança, meu deus! Tive remorsos. Nós poderíamos ter ajudado.
Nada romântico, realmente, mas, um texto que leva a reflexão, sobre essas crianças pedras no meio do caminho de tantos e sobre essA Moça, sensível, no meu caminho.
ResponderExcluirObrigada, Deus!
Bjo!
Eu que agradeço, Sue! Vindo assim, de outra escritora, o elogio até me emocionou.
ResponderExcluirObrigada.
A Moça.