1.1.13

Admirável Mundo Novo


Falando em Ano Novo, Admirável Mundo Novo é um livro para começar bem 2013. O progresso é tal que o mundo se tornou um lugar quase inabitável. Pelo menos, é o que pensamos nós, do lado de fora deste Admirável Mundo Novo, observando à distância a imaginação de Aldous Huxley nos levar aos pensamentos mais obscuros e aos comportamentos mais degradantes. Publicado em 1932, o livro leva todos a desacreditar o mundo a nossa volta. A previsão de Aldous é para 2540 d.C (ou, no livro, 634 d.F. [depois de Ford])., mas não está tão aquém do que já vivemos neste século XXI. A alienação, o condicionamento das classes, o progresso prevalecendo sobre o indivíduo. O uso de drogas para evitar sensações desagradáveis, para não encarar a vida. Por essas razões o livro se torna ainda mais importante, e mais assustador. O desenrolar da história faz crer que o destino dos homens não deve estar tão distante da realidade desse mundo das páginas de Huxley. Repleto de referências instigantes como Marx, Thomas Malthus, William Shakespeare, Darwin, Freud, Ford, e outros, esse Admirável Mundo Novo parece que não tarda a chegar, parece uma realidade tangível, quase. Um mergulho na criatividade de Huxley e a viagem será só de ida. Repense o mundo.




Capítulo Dezessete
Trecho da conversa de Mustafá Mond - "Sua Fordeza em pessoa" - e o Selvagem John.

[...]
- Uma das numerosas coisas do céu e da terra com que não sonharam aqueles filósofos é isto - e agitou a mão; - nós, o mundo moderno. "Só se pode ser independente de Deus enquanto se tem juventude e prosperidade; a independência não nos levará até o fim em segurança." Pois bem, agora nós temos juventude e prosperidade até o fim. O que resulta daí? Evidentemente, que podemos prescindir de Deus. "O sentimento religioso nos compensará de todas as nossas perdas." Mas não há, para nós, perdas a serem compensadas; o sentimento religioso é supérfluo. E por que iríamos em busca de um sucedâneo dos desejos infantis, se esses desejos nunca nos faltam? De um sucedâneo das distrações, quando continuamos desfrutando todas as velhas tolices até o fim? Que necessidade temos de repouso, quando nosso corpo e nosso espírito continuam deleitando-se na atividade? De consolo, quando temos o soma. De alguma coisa imutável, quando temos a ordem social?
- Então o senhor acha que não existe um Deus?
- Ao contrário, penso que muito provavelmente existe.
- Então por que... ?
Mustafá Mond atalhou-o.
- Mas ele se manifesta de modo diferente a homens diferentes. Nos tempos pré-modernos, manifestava-se como o ser descrito nesses livros. Agora...
- Como se manifesta ele agora? - perguntou o Selvagem.
- Bem, ele se manifesta como uma ausência; como se absolutamente não existisse.
- A culpa é sua.
- Diga, antes, que a culpa é da civilização. Deus não é compatível com as máquinas, a medicina científica e a felicidade universal. É preciso escolher. Nossa civilização escolheu as máquinas, a medicina e a felicidade. Eis por que é preciso que eu guarde esses livros no cofre. Eles são indecentes. As pessoas ficariam escandalizadas se...
O Selvagem interrompeu-o.
- Mas não é natural sentir que há um Deus?
- O senhor poderia igualmente perguntar se é natural fechar as calças com zíper - retrucou o Administrador sarcasticamente. - Faz-me lembrar outro desses antigos, chamado Bradley. Ele definia a filosofia como a arte de encontrar más razões para aquilo que se crê por instinto. Como se nós acreditássemos em alguma coisa, seja o que for, por instinto! Cremos nas coisas porque somos condicionados a crer nelas. A arte de 
encontrar más razões para aquilo que se crê por outras más razões, isso é a filosofia. As pessoas crêem em Deus porque foram condicionadas para crer em Deus.
- Ainda assim - insistiu o Selvagem - é natural crer em Deus quando se está só, completamente só, à noite, pensando na morte...
- Mas agora nunca se está só - disse Mustafá Mond. - Fazemos com que todos detestem a solidão, e organizamos a vida de tal forma que seja quase impossível conhecê-la.
O Selvagem concordou inclinando a cabeça com tristeza.
[...]

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