28.1.11

Tocaia Grande

Coisas que a gente nunca esquece depois de ler:



"Ouvidos à escuta, tentando distinguir rumor de passos em meio à comoção da borrasca - o zunido do vento, o estrondo do trovão, o barulho medonho da queda de um pé de pau atingido pelo raio -, encharcados, cobertos de lama, distribuídos por detrás das árvores, no alto da colina, os cabras esperam, tensos. Habituados ao tempo  longo das tocaias, temperados no perigo e na luta, íntimos da morte, ainda assim não conseguem impedir a incômoda sensação de agonia diante da fúria da natureza, o fim do mundo. Procuram manter a calma, controlar o sobressalto; medo maior sentem de Natário: da intempérie poderão escapar com vida, de bala do capataz nem por milagre."





"Cada vivente, por mais miserável e despossuído, por mais coitado e sozinho, tem direito a uma quota de alegria, não há sina que seja inteira de amargura. Não importa o custo, o preço a pagar. [...] Afinal, que se leva da vida além da dolência e da ânsia, da agonia e da ventura de um xodó? Vale a pena correr o risco: por mais caro que seja o preço, será barato."





" - Coronel, eu penso que todo homem tem vontade de ser dono de sua sina. Quando eu comecei a ganhar a vida, acompanhando romeiro lá no São Francisco, ouvi o povo dizer que a sina da gente tá escrita no céu e ninguém pode mudar, mas meu pensar é diferente. Acho que cada criatura tem de cuidar de si e sempre tive vontade de ser dono de mim mesmo."





Trechos do livro Tocaia Grande, de Jorge Amado [10.08.1912 - 6.08.2001]

Nenhum comentário:

Postar um comentário