11.3.13

Coisas da Terra

Todas as coisas de que falo estão na cidade
entre o céu e a terra.
São todas elas coisas perecíveis
e eternas
como o teu riso
a palavra solidária
minha mão aberta
ou este esquecido cheiro de cabelo
que volta
e acende sua flama inesperada
no coração de maio.

Todas as coisas de que falo são de carne
como o verão e o salário.
Mortalmente inseridas no tempo,
estão dispersas como o ar
no mercado, nas oficinas,
nas ruas, nos hotéis de viagem.

São coisas, todas elas,
cotidianas, como bocas
e mãos, sonhos, greves,
denúncias,
acidentes do trabalho e do amor

Coisas, de que falam os jornais
às vezes tão rudes
às vezes tão escuras

que mesmo a poesia as ilumina com dificuldade.


Mas é nelas que te vejo pulsando,
mundo novo,
ainda em estado de soluços e esperança.


Ferreira Gullar

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