20.3.11

Dolly

"Peguei a ponta do acolchoado e fui puxando devagar. Dolly estava deitada de costas e vestia uma bata de cetim preto decotada e curta com bordados de vidrilhos em arabescos, mas da cintura para baixo estava nua. Tinha as pernas ligeiramente encolhidas de encontro ao ventre, as mãos tentando enlaçar as pernas. Debaixo, a mancha de sangue formando uma grande roda no lençol. Puxei depressa o acolchoado e cobri o horror. Minhas pernas tremiam tanto que mal podiam me agüentar. Dolly, o que foi que fizeram com você?, perguntei e de repente eu tive a impressão de que ela ficou uma outra pessoa, não era mais a Dolly que eu conheci, na morte ela ficou uma quase-desconhecida com o mesmo emaranhado da cabeleira mas sem aquele brilho que vi na véspera."


Trecho do conto Dolly, primeiro do livro A Noite Escura e mais Eu.
De Lygia Fagundes Telles.

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