Passei apressada, como sempre. Andava pela rua como todas as pessoas se acostumaram a andar: cabeça baixa, atrasada, estressada, de mau-humor com a vida. E não haveria de acontecer nada muito diferente disso, até que... Eu pisei em alguma coisa.
Acho que as outras pessoas não teriam parado, mas eu não pude. Primeiro, veio o momento de pânico. Pelo barulho, poderia ser uma barata. Na verdade, o pânico viria independente de qual fosse o representante dos insetos. Não suporto insetos. Levantei o pé tão vagarosamente quanto pude. Respirei fundo, e olhei.
Era um grilo. Mas não daqueles tradicionais grandes e verdes, nem mesmo daqueles pequeninos e pretos. O meu grilo era todo colorido: tinha listras amarelas e pretas nas antenas e na cabeça, duas grandes asas marrons que escondiam costas vermelhas como rosas. Ele era lindo. De todos os grilos do mundo em que poderia ter pisado, o destino escolheu logo uma obra de arte. Eu o matei.
A pior parte é a consciência de que não havia sido algo materialmente importante para mim. Pisei nele como quem pisa em uma folha, uma flor, um simples graveto. Destruí, em alguns segundos, toda sua beleza, toda sua frágil natureza animal. Parei para sempre com seu canto noturno.
Fiquei imóvel, apática, um tanto deprimida. Não sabia exatamente se deveria ir embora e deixá-lo esmagado na calçada ou se deveria tirá-lo de lá e oferecer um funeral apropriado. Mas acho que ninguém oferece funerais a grilos assassinados.
Pobre do grilo. Não precisava ter morrido. Interpôs-se em meu caminho, descuidado com os homens que passam apressados. Amaldiçoei todos os canteiros de flores, que só servem para atrair os grilos e matá-los. Agora eu ando mais calmo, atento aos meus próprios passos. Nunca me esqueço daquele dia. Como as coisas são frágeis!
É preciso ter mais cuidado.
A Moça.
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