31.7.12

Desinteressado

Livro a Insustentável Leveza do Ser
Casal: Tereza e Tomas. 
Cachorro: Karenin.

“Do caos confuso dessa idéia, germina no espírito de Tereza uma idéia blasfematória da qual ela não consegue se desvencilhar: o amor que a liga a Karenin é melhor que o amor entre ela e Tomas. Melhor, mas não maior. Tereza não quer acusar ninguém, nem ela, nem Tomas, não quer afirmar que poderiam se amar mais. Parece-lhe apenas que o casal é criado de forma tal que o amor do homem e da mulher é a priori de uma natureza inferior ao que pode existir (pelo menos na melhor de suas versões) entre um homem e um cachorro – esta coisa estranha da história do homem, que o Criador certamente não previu.

É um amor desinteressado: Tereza não pretende nada de Karenin. Nem mesmo amor ela exige. Nunca precisou fazer as perguntas que atormentam os casais humanos: será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim? Todas essas perguntas que interrogam o amor, o avaliam, o investigam, o examinam, será que não ameaçam destruí-lo no próprio embrião? Se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença.”

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